Boletim da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas

Revista Espírita, fevereiro de 1860

Sexta-feira, 30 de dezembro de 1859. (Sessão particular.)

Leitura da ata da sessão de 23 de dezembro.

A Sociedade decidiu que, em cada sessão particular, em seguida à ata, será lida a lista nominativa dos ouvintes que tenham assistido à sessão geral precedente, com indicação dos membros que os apresentaram, e que o convite se destina a assinalar os inconvenientes dos quais poderiam ser causa a presença de pessoas estranhas à Sociedade. Em conseqüência, foi lida a lista dos ou vintes que assistiram à última sessão.

Foram admitidos como membros titulares, diante de seu pedido escrito, e depois do relatório verbal:

-1a O senhor Forbes, de Londres, oficial de engenharia, apresentado em 16 de dezembro.

-2ª A senhora Forbes, nascida condessa Passerini Corretesi, de Florença, apresentada em 23 de dezembro.

-3a O senhor Soive, negociante em Paris, apresentado em 16 de dezembro.

-4ª O senhor Demange, negociante em Paris, apresentado em 23 de dezembro.

Leitura de três novas cartas de pedido de admissão. Relatório e decisão remetidos para 6 de janeiro.

Comunicações diversas.

1a Carta do senhor Brion Dorgeval, contendo a resposta que dirigiu ao senhor Oscar Commettant, a respeito do artigo publicado por este último no Siècle, (Ver o nº de janeiro.)

2a Carta dosenhor Jobard, de Bruxelas, contendo observações muito justas sobre o estado moral dos Espíritos. Lamenta ele que os partidários do Espiritismo sejam, o mais freqüentemente, designados pelas iniciais; ele pensa que indicações mais explícitas contribuiriam para o progresso da ciência, em conseqüência, convida todos os partidários da doutrina a colocarem o seu nome, como ele mesmo o faz. (Ver o nº de janeiro.)

Esta última nota do senhor Jobard foi fortemente apoiada por um grande número de membros, que declararam autorizar a colocação de seus nomes em todas as apreciações que poderão concernir-lhes.

O senhor Allan Kardec observou que o medo do que se dirá disso diminui cada dia, e que hoje há poucas pessoas que temem confessar suas opiniões a respeito do Espiritismo; os epítetos de mau gosto, dados aos seus partidários, eles mesmos se tornam lugares comuns, ridículos, dos quais se ri, quando se vêem tantas pessoas de elite zombarem da Doutrina; porque se entrevê o momento no qual a força da opinião imporá silêncio aos sarcasmos. Mas outra coisa é ter a coragem de sua opinião na conversação, ou de liberar seu nome à publicidade. Entre as pessoas que sustentam a causa do Espiritismo com mais energia, há muitas que não se incomodam de colocar-se em evidência, não mais por outras coisas do que por estas. Esses escrúpulos, que de nenhum modo implicam na falta de coragem, devem ser respeitados. Quando fatos extraordinários se passam em alguma parte, concebe-se que seria pouco agradável, para as pessoas que lhes são objeto, tornar-se alvo da curiosidade pública e serem atacadas pelos importunes. Sem dúvida, é necessário estar contente com aqueles que se colocam acima dos preconceitos, mas não é necessário censurar, muito levianamente, aqueles que têm talvez motivos muito legítimos para não chamarem a atenção.

Estudos.

1ª Perguntas dirigidas a São Luís sobre os Espíritos que presidem às flores, a propósito da comunicação obtida pela senhora de B… Uma explicação muito interessante foi dada a esse respeito. (Será publicada.)

2a Outras perguntas sobre o espírito dos animais.

3ª Duas comunicações espontâneas foram obtidas simultaneamente, a 1a do Espírito de Verdade, pelo senhor Roze, e contendo conselhos dirigidos à Sociedade, a 2ª de Fénelon, pela senhorita Huet.

Sexta-feira, 6 de janeiro.

(Sessão particular.)

Leitura da ata do dia 30 de dezembro.

Foram admitidos como membros titulares, sobre pedido escrito, e depois de relatório verbal:

1a O senhor Ducastel, proprietário em Abbeville, apresentado em 30 dezembro;

2ªa senhora Deslandes, de Paris, apresentada em 30 de dezembro;

3a a senhora Rakowska, de Paris, apresentada em 30 de dezembro.

Leitura de uma carta de pedido de admissão.

Carta da senhora Poinsignon, de Paris, que felicita a Sociedade por ocasião do novo ano, e exprime seus votos pela propagação do Espiritismo.

Carta do senhor Demange, recentemente recebida, agradecendo sua admissão. Assegura à Sociedade sua cooperação ativa.

Exame de várias questões tocando em assuntos administrativos da Sociedade.

Comunicações diversas. Notícias sobre don Péra, prior de Armilly, morto há trinta anos. A esse respeito será feito um estudo.

2a Carta do senhor Lussiez, de Troyes, contendo reflexões muito judiciosas, relativas à influência moralizante do Espiritismo sobre as classes trabalhadoras.

3ª Carta da senhora P…, de Rouen, que anuncia ter obtido como médium, comunicações notáveis, e em tudo conforme com a doutrina de O Livro dos Espíritos. Essa carta contém, por outro lado, reflexões que denotam, da parte de sua autora, uma apreciação muito sadia das idéias Espíritas.

4a Carta relativa à senhorita Désirée Godu, médium curadora, em Hennebom. Sabe-se que, de parte da senhorita Godu, é uma obra de devotamento e de pura filantropia.

Estudos.

1º Perguntas dirigidas a São Luís, como esclarecimento e desenvolvimento de várias comunicações anteriores.

2º A Senhorita Dubois, médium, membro da Sociedade, tendo obtido uma comunicação de um Espírito que se diz ser Chateaubriand, deseja ter esclarecimentos a esse respeito.

Um outro Espírito se apresenta com o seu nome, mas se recusa a confirmar sua identidade em nome de Deus; confessa sua fraude, pede desculpas e dá curiosas indicações sobre a sua pessoa.

O verdadeiro Chateaubriand, em seguida, deu uma curta comunicação espontânea, nela prometendo outra mais explícita numa outra vez.

Sexta-feira, 13 de janeiro de 1860.

(Sessão geral)

Leitura da ata de 6 janeiro. Leitura de três novos pedidos de admissão. — Exame e relatório remetidos à sessão de 20 de janeiro.

Comunicações diversas.

1a Carta do senhor Maurice.de Teil, de Ardèche, contendo relação de fatos extraordinários que ocorreram em uma casa de Fons, perto de Aubenas, e que parecem, sob alguns aspectos, os que se passaram em Java.

2a Carta do senhor Albert Ferdinand, de Béziers, contendo três fatos notáveis que lhes são pessoais, e que provam a ação física, que os Espíritos podem exercer sobre certos médiuns.

3a Carta do senhor Crozet, de Havre, médium correspondente da Sociedade, que dá conta de uma comunicação que teve, juntamente com o senhor Sprenger, da parte de um Espírito brincalhão. Este Espírito, que é de um capitão da marinha, morto em Marseille há seis meses, explica com uma precisão e uma lucidez notáveis os diferentes golpes de cartas do jogo “bésigue” e a maneira pela qual faz perder ou ganhar os parceiros. (Será publicada.)

4a Um Espírito dançarino. O senhor e a senhora Netz, membros da Sociedade, há algum tempo, têm um Espírito que se manifesta em sua casa, dançando constantemente, quer dizer, fazendo dançar uma mesa que bate o ritmo perfeitamente conhecido de uma polca, de uma mazurca, de uma quadrilha, de uma valsa de dois ou três tempos, etc. Ele jamais quis escrever, e não responde senão por pancadas. Por esse meio, chegou a dizer que era Péruvien, de raça indiana, morto há cinqüenta e seis anos, com a idade de 35 anos; que quando vivo gostava muito de aguardente, e que agora freqüenta os bailes públicos onde sente um grande prazer. Apresenta esta particularidade de que jamais chega antes das dez horas da noite, e em certos dias. Ele vem, disse, pela senhora Netz, mas não pode se comunicar senão com o concurso do senhor D…, médium de efeitos físicos, de sorte que lhe é preciso a presença dos dois. Assim, o senhor D… jamais pôde fazê-lo vir à sua casa, e a senhora Netz não pode tê-lo se estiver só.

5a Leitura de uma comunicação espontânea, enviada pelo senhor Rabache, de Bourdeaux, seguindo-se a série daquelas que foram publicadas sob o título de conselhos de família.

6a A senhora Forbes dá a leitura de três comunicações espontâneas obtidas pelo seu marido, sobre o amor filial, o amor paternal e a paciência. Essas comunicações, notáveis pela sua alta moralidade e a simplicidade da linguagem, podem ser classificadas na categoria de conselhos íntimos.

Estudos.

1a Evocação do Espírito de Castelnaudary, já evocado em 9 de dezembro. (Ver a relação completa, sob o título de história de um condenado.)

2a Evocação do Espírito dançarino. Ele não quer escrever, mas bate o ritmo de várias danças com o lápis e agita o braço do médium em cadência. São Luís dá algumas explicações sobre o seu caráter, e confirma as informações fornecidas precedentemente.

3a Perguntas sobre as manifestações de Fons, perto de Aube-nas. Respondeu que há verdades nestes fatos, mas que não é preciso aceitá-los sem controle, e que sobretudo devese manter em guarda contra o exagero.

4a Evocação de don Péra, prior de Armilly. Ele forneceu interessantes detalhes sobre a sua situação e seu caráter.

5a Foram obtidas duas comunicações espontâneas: a primeira pelo senhor Roze, de um Espírito que se designou sob o nome de Estelle Riquier, e que levou uma vida desordenada e faltou com todos os seus deveres de esposa e de mãe. A segunda pelo senhor Forbes, contendo conselhos sobre a cólera.

Sexta-feira, 20 de janeiro de 1860.

(Sessão particular.)

Leitura da ata de 13 de janeiro.

São admitidos como membros titulares, a seu pedido escrito, e depois de relatório verbal:

1a O senhor Krafzoff, de São Petersburgo, apresentado em 13 de janeiro. – 2a O senhor Julien, de Belfort, (Haut-Rhin), apresentado em 13 de janeiro. – 3a O senhor conde Alexandre Stenbock Fermor, de São Petersburgo, apresentado em 6 de janeiro.
Comunicações diversas. 1a Leitura de uma comunicação espontânea obtida pelo senhor Pécheur, membro da Sociedade.

2ª Novos detalhes sobre o Espírito dançarino. A senhora Netz, que é médium escrevente, interrogando um outro Espírito a este respeito, obteve várias informações sobre o seu proveito, entre outras que era bastante rico quando vivo; que morreu de um acidente de caça, no momento em que se encontrava completamente só. Tendo, mais tarde, interrogado o próprio dançarino sobre esses fatos, com a ajuda de seu médium e por pancadas, dele se obtiveram respostas idênticas. Ora, a senhora Netz não dera conhecimento ao médium das primeiras respostas escritas; por outro lado, não era mais ela que servia de médium, além disso havia colocado perguntas insidiosas que poderiam conduzir a respostas contrárias; havia, portanto, de uma parte e de outra, independência de pensamento, e a correlação das respostas foi um fato característico.

Um outro fato igualmente curioso, foi que seu médium predileto para dança foi tomado um dia, saindo de sua casa, de movimentos involuntários que o fizeram marchar cadenciadamente todo comprimento da rua. Por sua vontade, e resistindo, poderia deter esses movimentos; mas, desde que se abandonou a si mesmo, suas pernas retomaram sua maneira dançante. Não havia nada, bastante ostensivo, para ser notado pelos transeuntes; mas concebe-se, segundo isso, que Espíritos de uma outra ordem e ma! intencionados que o dançarino, que, em definitivo, não querem senão se divertir, possam provocar, sobre certas organizações, movimentos mais violentos e da natureza daqueles que se vêem nos convulsionários e nos crisíacos.

3a Relato de um fato de comunicação espontânea de um Espírito de uma pessoa viva, narrada pelo senhor de G…, mediu m escrevente, que lhe é pessoal. Este Espírito entrou em detalhes circunstanciais completamente ignorados do médium e dos quais a exatidão foi verificada. O senhor de G. , não conhecia esta pessoa senão por tê-la visto uma única vez numa visita, e não a reviu depois. Não sabia senão seu nome de família; ora, o Espírito assinou, ao mesmo tempo, seu nome de batismo que era perfeitamente o seu. Esta circunstância, juntada a outras indicações de tempo e localidade, fornecidas pelo Espírito, constitui uma prova evidente de identidade.

O senhor conde de R… observou a este respeito, que essas espécies de comunicações, às vezes, podem ser indiscretas, e ele se pergunta se a pessoa em questão ficaria satisfeita se lhe tivesse feito parte de sua conversação. A isso respondeu: 1a Que se essa pessoa se comunicou, foi porque quis, como Espírito, uma vez que veio de seu próprio movimento, o senhor de G…, com isso nem sonhava, nem a chamou; 2a que o Espírito liberto do corpo tem sempre seu livre arbítrio, e não diz senão aquilo que quer; 3a que, nesse estado, o Espírito tem mesmo mais prudência que no estado normal, porque aprecia melhor a importância das coisas. Se esse Espírito visse um inconveniente qualquer em suas palavras, não as teria dito.

4a Leitura de uma comunicação dirigida de Lyon à Sociedade e na qual está dito entre outras coisas;

Que a reforma da Humanidade se prepara pela encarnação, na Terra, de Espíritos melhores que constituirão uma nova geração pelo amor ao bem; que os homens que se dão ao mal e que fecham os olhos à luz reencarnarão numa nova falange de Espíritos, simples e ignorantes, e enviados por Deus para trabalharem na formação de um globo inferior ao da Terra. Eles não poderão juntar-se a seus irmãos terrestres senão depois de haverem alcançado, através de rudes trabalhos, a classe onde esses últimos vão entrar depois dessa geração; porque não será dado aos Espíritos maus assistirem ao começo desta brilhante transformação.” O senhor Theubet observou que esta comunicação parece consagrar o princípio de uma marcha retrógrada, contrariamente a tudo o que nos foi ensinado.

Uma longa e profunda discussão se inicia a este respeito. Ela se resume assim: O Espírito pode decair como posição, mas não sob o aspecto das aptidões adquiridas. O princípio da não retrogradação deve-se entender do progresso intelectual e moral; quer dizer, que o Espírito não pode perder o que adquiriu em inteligência e moralidade, e não retorna mais ao estado de infância do Espírito; em outros termos, que ele não se torna nem mais ignorante nem pior do que era; o que não impede de estar reencarnado numa posição inferior mais penosa, e entre outros Espíritos mais ignorantes que ele, se desmereceu.

Um Espírito muito atrasado que se encarnasse entre um povo civilizado aí estaria deslocado e não poderia sustentar sua classe; retornando entre os selvagens, numa nova existência, não fará, portanto, senão retomar o lugar que deixara muito cedo; mas as idéias que houvera adquirido, durante sua estada entre os homens mais esclarecidos, não estarão perdidas para ele. Deve ocorrer o mesmo com os homens que irão concorrer para a formação de um mundo novo. Encontrandose deslocados na Terra melhorada, irão para um mundo em relação com o seu estado moral.

Estudos. Evocação do negro do navio Constant, já evocado em 30 de setembro de 1859.

Dá novas explicações sobre as circunstâncias que acompanharam a sua morte.

2a Três comunicações espontâneas: a primeira de Chateaubriand, pelo senhor Roze; a segunda de Platão, pelo senhor Colin; a terceira de Charlei, pelo senhor Didier filho, em continuação ao trabalho começado por ele sobre a natureza dos animais.

boletim espiritual 1860

Boletim da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas

Revista Espírita, janeiro de 1860

Sexta-feira, 2 de dezembro de 1859. (Sessão particular.)

Leitura da ata da sessão de 25 de novembro.

Pedidos de admissão. Cartas do senhor L. Benardacky, de São Petersburgo e da senhora Elisa Johnson, de Londres, que pedem para fazerem parte da Sociedade como membros titulares.

Comunicações diversas. Leitura de duas comunicações dadas ao senhor Bouché, antigo reitor da Academia, médium escrevente, pelo Espírito da duquesa de Longueville, a respeito de uma visita que esta última fizera, como Espírito, à Port-Royal-des Champs.

Essas duas comunicações são notáveis pelo estilo e a elevação dos pensamentos. Elas provam que certos Espíritos revêem com prazer os lugares que habitaram quando vivos, e que têm o encanto da lembrança. Sem dúvida, quanto mais desmaterializado, menos ligam importância às coisas terrestres, mas há os que a isso se prendem, por muito tempo ainda, depois de sua morte, e parecem continuar, no mundo invisível, as ocupações que tinham neste mundo, ou pelo menos tomam nisto um certo interesse.

Estudos. 1a Evocação do senhor conde Desbassyns de Richemont, morto em junho de 1859, e que, há mais de dez anos, professava as idéias Espíritas. Essa evocação confirma a influência destas idéias no desligamento do Espírito depois da morte.

2ª Evocação da irmã Marthe, morta em 1824.

3ª Segunda evocação do Sr. conde de R… C.., membro da Sociedade, retido em sua casa por uma indisposição e seguida de perguntas que lhe foram endereçadas sobre o isolamento momentâneo do Espírito e do corpo, durante o sono. (Publicada neste número.)

Sexta-feira, 9 de dezembro. (Sessão geral.)

Leitura da ata da sessão do dia 2 de dezembro.

Comunicações diversas. O senhor de Ia Roche transmitiu uma notícia sobre fatos de manifestações notáveis que ocorreram numa casa de Castelnaudary. Esses fatos são narrados na nota que precede o relatório da evocação que ocorreu a este respeito e que será publicado.

Estudos. 1a Evocação do rei de Kanala (Nova Caledônia), já evocado no dia 28 de outubro, mas que então escrevera com muita dificuldade, e havia prometido se exercitar para escrever mais claramente. Dá curiosas explicações sobre a maneira que adotou para se aperfeiçoar. (Será publicada com a primeira evocação.)

2a Evocação do Espírito de Castelnaudary. Ele se manifestou por sinais de viva cólera sem nada poder escrever; quebrou sete ou oito lápis, dos quais vários foram lançados com força contra os assistentes, e sacudiu violentamente o braço do médium. São Luís dá explicações interessantes sobre o estado e a natureza desse Espírito, que é, disse ele, da pior espécie, e na situação a mais infeliz. (Será publicada com todas as outras comunicações relativas a este assunto.)

3a Quatro comunicações são obtidas simultaneamente. A primeira de São Vicente de Paulo, pelo senhor Roze; a segunda de Charlet, pelo senhor Didier filho, seguindo o trabalho começado pelo mesmo Espírito. A terceira de Mélanchthon, pelo senhor Colin; a quarta de um Espírito que se deu o nome de Mikaèl, protetor das crianças, pela senhora de Boyer.

Sexta-feira, 16 de dezembro de 1859. (Sessão particular.)

Leitura da ata.

Admissões. São admitidos como membros titulares: o senhor L. Benadacky, de São Petersburgo, e a senhora Elisa Johnson, de Londres, apresentados dia 2 de dezembro.

Pedidos de admissão. O senhor Forbes, de Londres, oficial de engenharia, e a senhora Forbes, de Florença, escrevem para pedirem fazer parte da Sociedade como membros titulares. Relatório e decisão remetidos para o dia 30 de dezembro.

Designação de seis delegados que deverão dividir os serviços das sessões gerais até o dia primeiro de abril, sem que haja necessidade de designar um para cada sessão. Terão, por outro lado, em suas atribuições, que assinalar as infrações que poderão cometer os ouvintes estrangeiros, contra o regulamento, em conseqüência de sua ignorância das exigências da Sociedade, a fim de advertir os membros titulares que lhes deram as cartas de introdução.

Sobre a proposição do senhor Allan Kardec, a Sociedade decidiu que o Boletim de suas sessões será doravante publicado em suplemento da Revista, a fim de que esta publicação não se faça em detrimento das matérias habituais do jornal. Em conseqüência desta adição, cada número será aumentado em torno de quatro páginas, cujas despesas serão levadas à conta da Sociedade.

O senhor Lesourd propôs que quando houver cinco sessões no mês, a quinta seja consagrada a uma sessão particular. (Adotado.) O senhor Thiry observou que, freqüentemente, os Espíritos sofredores reclamam o socorro de preces como um abrandamento para as suas penas; mas, tendo em vista que pode ocorrer perdê-los de vista, propôs que, em cada sessão, o Presidente lhes lembre os nomes. (Adotado.)

Comunicações diversas. 1a Carta do senhor Jobard, de Bruxelas, que confirma, com detalhes circunstanciados, o fato das manifestações de Java, narrado pela senhora Ida Pfeiffer, e publicado na Revista de dezembro. Ele os obteve do próprio general holandês, com quem estava ligado, e que foi encarregado de fiscalizar a casa onde se passaram essas coisas, e por conseguinte, testemunha ocular. (Publicada neste número.)

2ª Leitura de uma comunicação do Espírito de Castelnaudary, obtido pelo senhor e senhora Forbes, ouvintes na última sessão. Ele deu detalhes interessantes e circunstanciados sobre este Espírito, e os acontecimentos que se passaram na casa em questão. Várias outras comunicações tendo sido obtidas sobre o mesmo assunto, elas serão reunidas à da Sociedade para serem publicadas quando o todo estiver completo.

3a Leitura de uma notícia sobre a senhora Xavier, médium vidente. Esta senhora não vê à vontade, mas os Espíritos se apresentam a ela espontaneamente; sem estar nem em sonambulismo, nem em êxtase, ela está, contudo, naqueles momentos, num estado particular, que reclama a maior calma e muito recolhimento; de tal sorte que se interrogada sobre o que vê, este estado se dissipa num instante, e ela não verá mais nada. Como disto conserva uma lembrança completa, pode dar-se conta mais tarde, do que viu. Assim é que, por exemplo, ela viu, entre outros, a irmã Marthe, no dia em que ela foi evocada e a designou de modo a não deixar nenhuma dúvida sobre a sua identidade. Ela viu igualmente, na última sessão, o Espírito de Castelnaudary, vestido com uma camisa rasgada, um punhal à mão, as mãos tintas de sangue, sacudindo fortemente o braço do médium, durante suas tentativas para escrever, e cada vez que São Luís parecia ordenar-lhe fazê-lo. Ele tinha uma espécie de sorriso bestificado nos lábios; depois, quando se falou de preces, primeiro não pareceu compreender; mas logo depois das explicações, dadas por São Luís, ele se precipitou aos seus joelhos.

O rei de Kanala apareceu-lhe com a cabeça de um branco; ele tinha os olhos azuis, bigodes e suíças cinzas, mãos de negro, braceletes de aço, uma roupa azul, o peito coberto com uma multidão de objetos que ela não pôde distinguir. “Esta aparência, foi-lhe dito, deve-se a que, entre a existência anterior da qual falou e sua última, ele foi soldado em França, sob Luís XV. Era uma conseqüência de seu estado avançado comparativamente. Ele pediu para retornar entre os povos de onde tinha saído para ali fazer, como chefe, penetrar as idéias de progresso. Esta forma que tomou, e esta aparência metade selvagem e metade civilizada, destinam-se a vos mostrar, sob uma nova face, as que o Espírito pode dar ao perispírito, com um objetivo instrutivo, e como indício dos diferentes estados pelos quais passou.”

A senhora X… viu ainda os Espíritos evocados virem responder à evocação e às perguntas que nada tinham de repreensível quanto à sua finalidade; e sob a ordem de São Luís, retirarse para deixar os Espíritos presentes responderem em seu lugar, desde que as perguntas tomassem um caráter insidioso. “A maior boa fé e a maior franqueza devem ditar as perguntas, nenhuma prevenção, acrescentou o Espírito interrogado a este respeito pelo marido desta senhora, não nos escapam; não procureis, portanto, jamais atingir vosso objetivo por caminhos secretos, pois assim o deixaríeis de tê-lo infalivelmente.”

Ela via uma coroa fluídica rodear a cabeça do médium, como para indicar os momentos durante os quais estava interditado aos Espíritos não chamados para se comunicarem, porque as respostas deviam ser sinceras; mas desde que esta coroa era retirada, ela via todos estes Espíritos intrusos disputarem, de algum modo, o lugar que lhes deixava.

Ela viu, enfim, o Espírito do Sr, conde de R… soba forma de um coração luminoso tombado, unido a um cordão fluídico que conduzia externamente. Era, foi-lhe dito, para vos ensinar primeiro que o Espírito pode dar, ao seu perispírito, a aparência que quer; em seguida porque pôde ali ver da inconveniência para esta senhoraem reencontrar, frente a frente, um Espírito encarnado que vira como Espírito desligado. Mais tarde, este inconveniente terá diminuído ou desaparecido.

Estudos. 1° Evocação de Charlei.

2a Três comunicações espontâneas foram obtidas simultaneamente: a primeira de Santo Agostinho, pela senhora Roze. Ela explica a missão do Cristo, e confirma um ponto muito importante explicado por Arago, sobre a formação do globo; -a Segunda de Charlet, pelo senhor Didier filho (continuação do trabalho começado); – a terceira de Joinville, que assina em velha ortografia: Amy de Loys, pela senhora Huet.

Sexta-feira, 23 de dezembro de 1859. (Sessão geral.)

Leitura da ata e dos trabalhos da sessão do dia 16 de dezembro.

Pedidos de admissão. Cartas do senhor Demange, negociante em Paris; do senhor Soive, negociante em Paris, apresentados como membros titulares. Relatório e decisão remetidos à sessão do dia 30 de dezembro.

Comunicações diversas. 1. Leitura de uma evocação feita em particular pela senhora de D… do Espírito que se comunicou espontaneamente por ela na Sociedade, sob o nome de Paul Miffet, no momento em que ia se reencarnar. Esta evocação, que apresenta um interessante quadro da reencarnação e da situação física e moral do Espírito nos primeiros instantes de sua vida corpórea, será publicada.

2. Carta do senhor Paul Netz sobre os fatos que conduziu à tomada de posse, pelos Chartreux, das ruínas do castelo Vauvert, situado no quarteirão do Observatório de Paris, sob Luís IX. Passaram-se, supostamente, neste castelo, cenas de feitiços, que cessaram desde que os monges aí foram instalados. São Luís, interrogado sobre esses fatos, respondeu que deles tem perfeitamente conhecimento, mas que eram uma hipocrisia.

Estudos. 1. Questões e problemas morais diversos dirigidos a São Luís, sobre o estado dos

Espíritos sofredores. (Serão publicados.)

2. Evocação de John Brown.

3. Três comunicações espontâneas: a primeira pela senhora Roze, e assinada pelo Espírito de Verdade, contendo diversos conselhos à Sociedade; a segunda, de Charlei, pelo senhor Didier filho (continuação do trabalho começado); a terceira sobre os Espíritos que presidem às flores, pela senhora de B…

ALLAN KARDEC.
Nota. A nova edição de O Livro dos Espíritos vai aparecer em janeiro.

 

sociedade espirita

Correspondência. Carta do Sr. Dorgeval ao Sr. Comettant

Revista Espírita, janeiro de 1860

Carta do Sr. Dorgeval ao Sr. Comettant

Toulouse, 17 de dezembro de 1859.

Meu caro Senhor.

Acabo de ler vossa resposta ao senhor Oscar Comettant, de quem li o artigo. Se este folhetinista céptico e tolamente zombeteiro não está convencido pelas boas razões que lhe destes, ao menos poderá reconhecer em vossa resposta a urbanidade do estilo, que faltou totalmente à sua prosa; os parênteses deselegantes, nos quais crivou as evocações, me parecem do espírito de palhaço; as queixas das quais acompanhou os dois francos que lhe custaram a sonata poderiam bem merecer que a Sociedade lhe votasse um socorro de 2 francos. Pensai bem, meu caro senhor Allan Kardec, que sou Espírita muito inflamado para deixar sem resposta um artigo onde fui nomeado e colocado em causa; escrevi, também, de minha parte, ao senhor Oscar Comettant; no dia seguinte ao recebimento do seu jornal, ele recebeu de mim a carta seguinte:

Senhor,

Tive o prazer de ler o vosso folhetim de quinta-feira: Variedades. Como ele me coloca em causa, uma vez que ali sou pessoalmente nomeado, peco-vos conceder-me a permissão de fazer, a este respeito, algumas observações que consentireis em aceitar, sob o mesmo título que, eu mesmo, aceitei os espirituosos parênteses com os quais coloristes a narração que fizestes das evocações de Mozart e Chopin. Que quereis ridicularizar com este artigo humorístico? É o Espiritismo? Enganar-vos-éis muito crendo fazer-lhe o menor dano. Em França se brinca primeiro, depois se julga, e não se lhe concedem as honras do gracejo senão às coisas verdadeiramente grandes e sérias, quite para lhe conceder depois de todo o exame que elas merecem.

Se o senhor Ledoyen é tão ávido e interessado como quereis fazer crer, deve vos ser muito reconhecido em haver consentido, por um folhetim de onze colunas, assegurar o sucesso de uma de suas mais modestas publicações; foi a primeira vez que um artigo tão importante foi publicado num grande jornal sobre o Espiritismo; vejo, por este artigo quase ruidoso, que o Espiritismo já é levado em consideração por seus próprios inimigos, e vos direi, confidencialmente, que os Espíritos nos disseram que se serviriam também de seus inimigos para fazerem sua causa triunfar. Assim não tendes senão que vos manter em guarda, se não quereis vos tornar o apóstolo a contragosto.

Não quereis ver, no Espiritismo, senão o charlatanismo moral e comercial; nós, futuros locatários de Charenton, nele encontramos a solução de uma multidão de problemas contra os quais a Humanidade choca a sua razão desde longos séculos, a saber: o reconhecimento raciocinado de Deus em todas as suas obras materiais e espirituais; a imortalidade e a individualidade certas da alma provada pela manifestação dos Espíritos; a ciência das leis da justiça divina, estudada nas diversas encarnações dos Espíritos, etc., etc. Dando-se ao trabalho de aprofundar um pouco estes assuntos, poder-se-ia ver que eles se encontram acima de todos os sarcasmos e de todas as zombarias. Seria inútil tratar-nos de sonhadores alucinados, diremos todos, em lugar do: É pursimuove de Galileu : e todavia Deus lá está!

Peço vos aceitar, etc.

BRION DORGEVAL.

Primeiro baixo de ópera cômica do teatro de

Toulouse, pensionista do senhor Carvalho.

Nota. Não é do nosso conhecimento que o senhor Oscar Comettant haja publicado esta resposta, não mais que a nossa; ora, atacar sem admitir a defesa não é uma guerra louvável.

Carta do Sr. Jobard sobre as qualidades do Espírito depois da morte

Bruxelas, 23 de dezembro de 1859.

Meu caro colega,

Venho vos submeter algumas reflexões etnográficas sobre o mundo dos Espíritos, na intenção de levantar uma opinião bastante geral, mas, na minha opinião, muito errônea sobre o estado do homem depois de sua espiritualização.

Imagina-se erroneamente que um imbecil, um ignorante, um bruto torne-se imediatamente um gênio, um sábio, um profeta, desde que deixou seu invólucro. E um erro análogo àquele que supusesse que um celerado livre da camisa de força vá se tornar honesto; um tolo espiritual e um fanático razoável, só por isso transporá a fronteira.

Não é nada disso; levamos conosco todos as nossas conquistas morais, nosso caráter, nossa ciência, nossos vícios e nossas virtudes, com exceção daquilo que diz respeito à matéria: os coxos, os caolhos e os corcundas não o são mais; mas os patifes, os avaros, os supersticiosos o são ainda. Não se deve, pois, espantar-se ouvindo os Espíritos pedindo preces, desejarem que se cumpram peregrinações que haviam prometido, ou mesmo que se encontre o dinheiro que esconderam, com objetivo de dá-lo à pessoa à qual o haviam destinado, e que indiquem exatamente, fosse ela ainda reencarnada.

Em suma, o Espírito que tinha um desejo, um plano, uma opinião, uma crença na Terra, deseja vê-las cumprir-se. Assim, Hahnemann se exclamaria: “Coragem, meus amigos, minha doutrina triunfa, que satisfação para a minha alma!”

Quanto ao doutor Gall, sabeis o que pensa de sua ciência, assim como Laváter, Swedenborg e Fourier, o qual me disse que seus alunos mutilaram sua doutrina querendo saltar acima da fase da segurança e me felicita por prosseguir.

Em uma palavra, todos os Espíritos que professam uma religião, uma idolatria, ou um cisma por convicção, persistem na mesma crença, até que sejam esclarecidos pelo estudo e pela reflexão. Tal é o objeto das minhas neste momento e, evidentemente foi um Espírito lógico que mas ditou, porque, há uma hora, não sonhava que iria deitar-me para acabar a leitura do excelente pequeno livro da senhora Henry Gaugain sobre os piedosos preconceitos da Baixa-Bretanha contra as invenções novas.

Continuando vossos estudos, reconhecereis que o mundo de além-túmulo não é senão a imagem daguerreotipada deste, que encerra como sabeis Espíritos malignos como o diabo, e maus como os demônios. Não é de admirar que as pessoas boas se enganem e interditem todo o comércio com eles; o que as priva da visita dos bons e dos grandes Espíritos que são menos raro lá em cima do que neste mundo, uma vez que ali estão de todos os tempos e todos os países, os quais não pedem senão dar-nos bons conselhos e nos fazer o bem; ao passo que sabeis com que repugnância e com que cólera os maus respondem ao chamado forçado; mas o maior, ornais raros de todos os Espíritos, aquele que não vem senão três vezes durante a vida de um globo, o Espírito divino, o Santo Espírito, enfim, não obedece às evocações dos pneumatólogos; ele vem quando quer, spiritus flat ubi vult, o que não quer dizer que não envia outros para preparar-lhe o caminho.

A hierarquia é uma lei universal, tudo é como tudo, alhures como em nossa casa. O que retarda mais o progresso das boas doutrinas, que a perseguição não as deixa avançar, é o falso respeito humano. Há muito tempo o magnetismo teria triunfado se, em lugar de dizer: o senhor X., o senhor W., se houvesse dado o nome e endereço das pessoas, por referências, como dizem os Ingleses. Mas se disse: qual é esse senhor M. que se esconde?

Um mentiroso aparente; esse senhor J? Um escamoteador; esse senhor F. um farsante, ou antes um ser de razão no qual tem-se razão de não se fiar, porque não se esconde e não se mascara senão para fazer mal ou mentir.

Hoje, que as academias admitem, enfim, o magnetismo e o sonambulismo, primos- irmãos do Espiritismo, é necessário que seus partidários se animem a assinar com todas as letras. O medo do que disto se dirá é um sentimento frouxo e mau.

A ação de assinar o que se viu e o que se crê não deve mais ser olhada como um traço de coragem; deveis, pois, convidar vossos adeptos a fazer o que faço todos os dias, a assinarem.

JOBARD.

Nota. Estamos, em todos os pontos de acordo com o senhor Jobard; primeiro, suas observações sobre o estado dos Espíritos são perfeitamente exatas. Quanto ao segundo ponto, aspiramos como ele momento em que o medo do que disto se dirá não reterá ninguém mais; mas, que quereis? É necessário fazer a parte da fraqueza humana, alguns
começam, e o senhor Jobard terá o mérito de haver dado o exemplo; outros seguirão, estejai disto seguro, quando virem que se pode colocar o pé fora sem ser mordido; é preciso tempo para tudo; ora, o tempo vem mais depressa do que o crê o senhor Jobard; a reserva que colocamos na publicação de nomes é motivada por razões de conveniências, das quais, até o presente, não temos senão que nos aplaudir; mas, à espera disso, constatamos um progresso muito sensível na coragem de sua opinião.

Vemos todos os dias pessoas que, ainda há pouco tempo, ousavam com dificuldade se confessarem Espíritas; hoje, elas o fazem abertamente na conversação, e sustentam teses sobre a Doutrina, sem se importarem, ao mínimo, com o mundo de epitetos sonantes com os quais são gratificadas; é um passo imenso: o resto virá. Eu o disse principiando: Ainda mais alguns anos, e ver-se-á uma outra mudança. Dentro em pouco, o mesmo será com o Espiritismo como com o magnetismo; recentemente, não era senão entre quatro olhos que se ousava dizer-se magnetizador, hoje é um título com o qual se honra. Quando se estiver bem convencido de que o Espiritismo não queima, dir-se-ão Espíritas sem medo mais, como se diz frenologista, homeopata, etc.

Estamos num momento de transição, e as transições jamais se fazem bruscamente.

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As Pedras de Java

Bruxelas, 9 de dezembro de 1859.

Senhor Diretor,

Li na Revista Espírita o fato relatado por Ida Pfeiffer sobre as pedras caídas em Java, na  resença de um oficial superior holandês, com o qual estive muito ligado em 1817, pois foi ele quem me emprestou suas pistolas e serviu de testemunha em meu primeiro duelo.

Chamava-se Michiels, de Maestricht, e tornou-se general em Java. A carta que relatava o fato acrescentava que essa queda de pedras, na habitação isolada do distrito de Chéribon, não durou menos de doze dias, sem que as sentinelas postas pelo general tivessem algo descoberto, nem ele também, durante todo o tempo em que lá ficou. Essas pedras, formadas de uma espécie de pedra-pomes, pareciam criadas no ar, a alguns pés do teto. Com elas o general mandou encher vários cestos; os habitantes vinham buscá-las para fazer amuletos e mesmo remédios. Este fato é muito conhecido em Java, pois se repete com muita freqüência, sobretudo as cusparadas de siri. Várias crianças foram perseguidas a pedradas em campo raso, sem serem atingidas. Dir-se-ia que os Espíritos farsistas se divertiam em amedrontar as pessoas. Evocai o Espírito General Michiels; talvez ele vos explique o fato. O Dr. Vanden Kerkhove, que durante muito tempo morou em Java, confirmou-me, como vos afirmo, que vossa Revista torna-se cada dia mais interessante, mais moralizadora e mais procurada em Bruxelas.

Aceitai,

O conhecido caráter da Sra. Ida Pfeiffer, o cunho de veracidade que marca todos os seus relatos não nos deixam nenhuma dúvida quanto à realidade do fenômeno em questão; mas compreende-se toda a importância que a ela vem juntar-se a carta do Sr. Jobard, pelo depoimento da principal testemunha ocular encarregada de verificar o fato, e que não tinha o menor interesse em fazê-lo acreditado, se o tivesse reconhecido falso. Em primeiro lugar, a natureza esponjosa dessa chuva de pedras poderia fazer atribuí-la a uma origem vulcânica ou aerolítica, e os céticos não deixariam de dizer que a superstição havia tomado o lugar de um fenômeno natural. Se não contássemos senão com o testemunho dos javaneses, a suposição seria fundada, e as pedras, caindo em campo raso, viriam sem dúvida em apoio dessa opinião. Mas o General Michiels e o Dr. Vanden Kerkhove não eram malaios, e sua afirmação tem valor. A essa consideração, por si só muito forte, é preciso acrescentar que as pedras não caíam somente em pleno ar, mas no quarto onde parece que se formavam, a alguma distância do teto: é o general quem o afirma. Ora, imaginamos que jamais se tenham visto aerólitos se formarem na atmosfera de um quarto.

Admitindo a causa meteorológica ou vulcânica, o mesmo não se poderia dizer das cusparadas de siri, que os vulcões jamais vomitaram, pelo menos de nosso conhecimento. Afastada essa hipótese pela própria natureza dos fatos, resta saber como tais substâncias puderam ser formadas. Encontraremos sua explicação em nosso artigo do mês de agosto de 1859, sobre o Mobiliário de Além-túmulo.

pedras de java

Conselhos de família

Revista Espírita, janeiro de 1860

Ditados espontâneos

Nossos leitores se lembram, sem dúvida, do artigo que publicamos, no mês de setembro último, sob o título: Uma Família Espírita. As comunicações seguintes lhe são digno complemento. São, com efeito, conselhos ditados numa reunião íntima, por um Espírito eminentemente superior e benevolente. Elas se distinguem pelo encanto e a doçura do estilo, a profundidade dos pensamentos, e por outro lado, pelas nuanças de uma delicadeza extrema, apropriadas à idade e ao caráter das pessoas a quem são dirigidos. O senhor Rabache, negociante de Bordeaux, que serviu de intermediário, autorizou-nos a publicá-las; não podemos senão felicitar os médiuns que obtêm semelhantes mensagens: é uma prova de que têm simpatias felizes no mundo invisível.

Castelo de Pechbusque, novembro de 1859.

(Primeira sessão.)

Perguntado ao Espírito protetor da família se consentia dar alguns conselhos aos membros presentes, ele respondeu:

Sim: que tenham confiança em Deus e que procurem instruir-se quanto às verdades imutáveis e eternas que lhes ensina o livro divino da natureza; ele contêm toda a lei de Deus, e aqueles que sabem lê-lo e compreendê-lo, são os únicos que seguem o verdadeiro caminho da sabedoria. Que nada daquilo que verão seja negligenciado por eles, porque cada coisa carrega consigo um ensinamento, e deve, com o uso do raciocínio, elevara alma a Deus e aproximá-la dele. Em tudo o que tocar sua inteligência, procurem sempre distinguir o bem do mal; o primeiro para praticá-lo, o segundo para evitá-lo. Que antes de formular o seu julgamento, voltem sempre seu pensamento para o ETERNO, que só os guiará no bem, E NÃO OS ENGANARÁ JAMAIS.

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(Segunda sessão.)

Boa noite, meus filhos. Se me amais, procurai vos instruir; reuni-vos freqüentemente com este pensamento. Ponde vossas idéias em comum, é um excelente meio, porque não se comunicam, em geral, senão as coisas que se crêem boas: têm-se vergonha das más, também se as guarda em segredo, ou não se as comunica senão àqueles dos quais se espera fazer cúmplices. Discernem-se os bons pensamentos dos maus naquilo que os primeiros podem, sem nenhum temor, comunicar-se a todo o mundo, ao passo que os primeiros não poderiam, sem perigo, comunicar senão a alguns. Quando um pensamento vos chegar, para julgar o seu valor, perguntai-vos se podeis, sem inconvenientes, torná-lo público, e se ele não produzirá nenhum mal: se vossa consciência a isso vos autoriza, não tende medo, vosso pensamento é bom. Dai-vos, mutuamente, bons conselhos, e, nisto, não tendes jamais em vista senão o bem daquele a quem os derdes, e não ao vosso. Vossa recompensa, para vós, estará no prazer que experimentareis por terdes sido úteis. A união dos corações é a fonte mais fecunda de felicidades, e se muitos homens são infelizes, é porque não procuram a felicidade senão só para eles ; escapa-lhes precisamente porque não crêem encontrá-la senão no egoísmo.

Eu digo a felicidade e não a fortuna, porque esta última, até hoje, não serviu senão para sustentar a injustiça, e o objetivo da existência é a justiça. Ora, se a justiça fosse praticada entre os homens, o mais afortunado seria aquele que houvesse cumprido a maior soma de boas obras. Se, portanto, quereis vos tornar ricos, meus filhos, fazei sempre boas ações; pouco importam os bens do mundo, não é a satisfação da carne que é preciso procurar, mas a da alma: aquela não tem senão uma duração efêmera, esta é eterna.

É bastante por hoje; meditai estes conselhos, e tratai de colocá-los em prática: aí está o caminho estreito da salvação.

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(Terceira sessão.)

Sim, meu filhos, eis-me aqui. Tende confiança em Deus, que não abandona jamais aqueles que fazem o bem. O que credes o mal, freqüentemente, não o é senão com relação às vossas concepções. Freqüentemente, também, o mal real não vem senão do desencorajamento que ocasiona uma dificuldade, que a calma de espírito e a reflexão poderiam evitar. Refleti, portanto, sempre, e, como já vos disse, reportai tudo a Deus.

Quando provais alguns desgostos, longe de vos entregardes a tristeza, resisti, ao contrário, e fazei todos os vossos esforços para dela triunfar, pensando que nada se obtém sem dificuldade, e que o sucesso, freqüentemente, é cheio de dificuldades.

Invocai, em vossa ajuda, os Espíritos benevolentes; eles não podem, como se vos ensina, fazer boas obras em vosso lugar, nem nada obter de Deus por vós, porque é preciso que cada um ganhe, por si mesmo, a perfeição à qual todos estamos destinados, mas eles podem vos inspirar o bem, vos sugerir uma conduta conveniente, e vos ajudar com o seu concurso. Eles não se manifestam ostensivamente, mas no recolhimento; escutai a voz da vossa consciência, lembrando-vos os meus precendentes conselhos. — Confiança em Deus, calma e coragem.

(Quarta sessão.)

Boa noite, meus filhos. Sim, é preciso continuar (as sessões) até que um médium se manifeste para substituir aquele que deve vos deixar. Seu papel de iniciador entre vós está cumprido: continuai o que começastes, porque vós, também, servireis um dia à propagação da verdade que proclamam, nesse momento, no mundo inteiro, as manifestações ditas dos Espíritos. Persuadi-vos, meus filhos, de que o que se entende em geral por Espírito na Terra, não é Espírito senão para vós. Depois que este Espírito, ou alma, está separado da matéria grosseira que o envolve, para vós ele não tem mais o corpo, porque os vossos olhos materiais não podem mais vê-lo; mas ele é sempre matéria, relativamente àqueles que são mais elevados do que ele. Para vós, meus jovens filhos, vou fazer uma comparação muito imperfeita, mas que, todavia, poderá vos dar uma idéia da transformação, que impropriamente chamais morte. Figurai-vos uma lagarta que vedes todos os dias. Quando o tempo de sua existência nesse estado decorreu, ela se transforma em crisálida; passa ainda um tempo nesse estado, depois, chegado o momento, ela se despoja de seu envoltório grosseiro, e dá nascimento à borboleta que voa. Ora, a lagarta, deixando sua natureza grosseira, representa o homem que morre, a borboleta representa a alma que se eleva. A lagarta rasteja na terra, a borboleta voa para o céu; mudou de matéria, mas ainda é material. A lagarta, se ela raciocinasse, não veria a borboleta que, todavia, saíra da carapaça apodrecida da crisálida. Portanto, o corpo não pode ver a alma; mas a alma envolvida de matéria tem consciência de sua existência, e o maior dos materialistas, ele mesmo, o sente interiormente, seu orgulho, então, impede-o de convir nisto, e fica com sua ciência sem crença, sem elevar-se, até que, enfim, a dúvida lhe venha. Então, não está tudo acabado, porque nele a luta é maior; mas isto não é senão uma questão de tempo, porque, lembrai-vos, meus amigos, todos os filhos de Deus foram criados para a perfeição. Felizes aqueles que não perdem seu tempo no caminho: A eternidade se compõe de dois períodos: o da prova, que se poderia chamar a incubação, e o da eclosão ou entrada na vida verdadeira, que chamais a felicidade dos eleitos.

(Quinta sessão.)

Meus queridos filhos, vejo com satisfação que começais a refletir sobre os avisos e conselhos que vos dou . Sei que, para o desenvolvimento atual de vossa inteligência, ao mesmo tempo são muitos assuntos de reflexão; mas devo aproveitar a ocasião que se apresenta: em alguns dias este meio não estará mais à minha disposição, e será necessário alcançar a vossa imaginação de maneira a sugerir o desejo de continuar as vossas sessões, até que, algum de vós, possa substituir o médium atual. Espero que estas poucas sessões, nas quais vos convido a meditar longamente , terão bastado para despertar a vossa atenção, e o desejo de aprofundar mais este vasto objeto de investigações. Tomai por regra jamais procurarem satisfazer uma vã curiosidade, mas vos instruir e vos aperfeiçoar. É inútil vos preocupardes com a diferença que possa existir entre o que eu vos ensinei e o que sabeis ou credes saber; cada vez que uma instrução vos for dada, perguntai se ela é justa, e se responde às exigências da consciência e da eqüidade: quando a resposta for afirmativa, não vos inquieteis em saber se ela concorda com que vos foi dito. Que vos importa isto! O importante é o justo, o consciencioso e o eqüitativo: tudo o que reúne essas condições, é de Deus. Obedecer a uma boa consciência, não fazer senão coisas úteis, evitar todas aquelas que, sem serem más, não têm utilidade, é o essencial; porque já é fazer mal fazendo alguma coisa inútil.

Evitai escandalizar, mesmo para o vosso aperfeiçoamento. Há circunstâncias tais que unicamente a visão de vossa mudança pode produzir um mau efeito. Assim é que, por exemplo, à luz do dia não poderia, sem perigo, ferir subitamente os olhos de um homem encerrado num cárcere escuro. Que vosso progresso, então, não se entregue à investigação senão conforme a sabedoria vos aconselhar. Aperfeiçoai-vos sempre; vós os fareis ver somente quando isso estiver no tempo. Aqueles para quem escrevi este conselho o compreenderam, sem-que tivesse a necessidade de ser mais explícito; sua consciência lhes dirá.

Coragem, pois, e perseverança! Estas são as únicas leis do sucesso.

Nota. Este último conselho não poderia ser de uma aplicação geral; o Espírito, evidentemente, teve um objetivo especial, assim como ele mesmo disse, de outro modo se poderia enganar sobre o sentido e a importância de suas palavras.

O Espírito de um lado e o corpo do outro

Revista Espírita, janeiro de 1860

Conversa com o Espírito de uma pessoa viva.

Nosso honorável colega, Sr. conde de R… C… nos dirigiu a seguinte carta, datada de 23 de novembro último:

“Senhor Presidente,

“Ouvi dizer que médicos, entusiastas de sua arte e desejosos de contribuírem pelo progresso da ciência, tornando-se úteis à Humanidade, tinham, por testamento, legado seus corpos ao escalpelo das salas anatômicas. A experiência, à qual assisti, da evocação de uma pessoa viva (sessão da Sociedade do dia 14 de outubro de 1859) não me pareceu bastante instrutiva, porque se tratou de uma coisa muito pessoal: colocar em comunicação um pai vivo com a sua filha morta. Pensei que o que os médicos fizeram com relação ao corpo, um membro da Sociedade poderia fazê-lo com relação à alma, quando vivo, colocando-se à vossa disposição para uma experiência desse gênero.

Poderíeis, talvez, preparando de antemão as perguntas que, nesta vez, nada teriam de pessoal, obter algumas luzes novas sobre o fato do isolamento da alma e do corpo.

Aproveitando de uma indisposição que me retém em casa, venho oferecer-me como objeto de estudo, se vos aprouver. Sexta-feira próxima, pois, se não receber ordem contrária, deitar-me-ei às nove horas, e penso que às nove e meia podereis me chamar, etc…”

Aproveitamos o oferecimento do Sr. conde de R… C… com tanto mais diligência, porque, colocando-se à nossa disposição, pensamos que seu Espírito se prestaria mais voluntariamente às nossas pesquisas; por outro lado, sua instrução, a superioridade de sua inteligência (o que, abrindo parênteses, não o impede de ser um excelente Espírita) e a experiência que adquiriu ao redor do mundo como capitão da marinha imperial, poderiam nos fazer esperar, de sua parte, uma apreciação mais sadia de seu estado:

Nossa espera não foi enganada. Tivemos, conseqüentemente, com ele, as duas entrevistas seguintes, a primeira no dia 25 de novembro, e a segunda no dia 2 de dezembro de 1859.

O Espírito de um lado e o corpo do outro

(Sociedade; 25 de novembro de 1859.)

1. Evocação. — R. Estou aqui.

2. Tendes, neste momento, consciência do desejo que expressastes de ser evocado? — R. Perfeitamente.

3. Em que lugar estais aqui? — R. Entre vós e o médium.

4. Vede-nos tão claramente como quando assistíeis pessoalmente às nossas sessões? — R. Mais ou menos, mas um pouco velada; eu ainda não durmo bem.

5. Como tendes consciência de vossa individualidade aqui presente, ao passo que o vosso corpo está em vosso leito? — R. Meu corpo não é senão um acessório para mim neste momento, sou EU que estou aqui.

Nota. Sou EU que estou aqui é uma resposta muito notável; para ele, o corpo não é a parte essencial de seu ser; esta parte é o Espírito que constitui o seu eu; seu. eu e seu corpo são duas coisas distintas.

6. Poderíeis vos transportar instantaneamente e à vontade daqui para vossa casa e da vossa casa para aqui? — R. Sim.

7. Indo de vossa casa para aqui e reciprocamente, tendes consciência do trajeto que fizestes? Vedes os objetos que estão no vosso trajeto? — R. Eu o poderia, mas negligencio fazê-lo, não estando nisso interessado.

8. O estado em que estais é semelhante ao de um sonâmbulo? — R. Não inteiramente; meu corpo dorme, quer dizer, está mais ou menos inerte; o sonâmbulo não dorme; suas faculdades orgânicas estão modificadas e não anuladas.

9. O Espírito de uma pessoa viva evocada poderia indicar remédios como um sonâmbulo? — R. Se os conhecesse, ou se entrasse em relação com um Espírito que os conheça, sim; do contrário, não.

10. A lembrança de vossa existência corpórea está nitidamente presente em vossa memória? — R. Muito nitidamente.

11. Poderíeis citar algumas de vossas ocupações, as mais importantes do dia? — R. Eu o poderia, mas não o farei, e lamento ter proposto esta pergunta. (Ele havia pedido que lhe endereçasse uma pergunta como prova.)

12. E como Espírito que lamentais a proposta desta pergunta?— R. Como Espírito.

13. Por que o lamentais? — R. Porque compreendo melhor o quanto é justo que seja a maioria do tempo proibido fazê-lo.

14. Poderíeis fazer-nos a descrição de seu quarto de dormir?— R. Certamente; e o do meu porteiro também.

15. Pois bem! Então sede bastante bom para nos descrever o vosso quarto, ou o do vosso porteiro? — R. Eu disse que o poderia, mas poder não é querer.

16. Qual é a enfermidade que vos retém em casa? — R. A gota.

17. Há um remédio para a gota? Se o conheceis serieis muito bom indicando-o, porque seria prestar um grande serviço. — R. Eu o poderia, mas disso me guardarei bem; o remédio seria pior que o mal.

18. Pior ou não, quereis indicá-lo, salvo a não se servir dele. -R. Há vários, entre outros o cólquico.

Nota. Desperto, o senhor de R… reconheceu jamais ter ouvido falar desta planta como específico anti-gotoso.

19. Em vosso estado atual, veríeis o perigo que poderia correr um amigo, e poderíeis vir em sua ajuda? — R. Eu o poderia; inspirá-lo-ia, se escutasse minha inspiração, e com ainda mais sucesso se fosse médium.

20. Uma vez que vos evocamos segundo o vosso desejo, e quereis vos colocar à nossa disposição para os nossos estudos, quereis nos descrever, o melhor possível, e nos fazer compreender, se for possível, o estado em estais agora? — R. Estou no estado mais feliz e mais satisfatório que se possa provar. Jamais tivestes um desses sonhos onde o calor do leito vos leva a acreditar que estais deitando molemente nos ares, ou em flocos de uma onda tépida, sem nenhum cuidado com os vossos movimentos, sem nenhuma consciência de membros pesados e incômodos para mover ou arrastar, em uma palavra, sem nenhuma necessidade para satisfazer; não sentindo nem o aguilhão da fome e nem o da sede? Estou neste estado junto a vós; embora não vos tenha tido senão uma pequena idéia do que experimento.

21. O estado atual de vosso corpo sente uma modificação fisiológica qualquer, em conseqüência da ausência do Espírito? — R. De nenhum modo; estou no estado que chamais o primeiro sono; sono pesado e profundo que todos experimentamos, e durante o qual nos afastamos do nosso corpo.

Nota. O sono, que não era completo no começo da evocação, se estabeleceu pouco a pouco, em conseqüência do próprio desligamento do Espírito que deixa o corpo num maior repouso.

22. Se em conseqüência de um movimento brusco, se despertasse instantaneamente vosso corpo, enquanto o vosso Espírito está aqui, que resultaria disso? — R. O que é brusco para o homem é bem lento para o Espírito, que sempre tem o tempo de ser advertido.

23. A felicidade que acabais de nos pintar, e da qual gozais no vosso estado livre, tem alguma relação com as sensações agradáveis que sentem, algumas vezes, nos primeiros momentos da asfixia? O senhor S…, que teve a satisfação de provar (involuntariamente), vos dirige esta pergunta. — R. Ele não tem inteiramente razão; na morte por asfixia há um instante análogo àquele do qual fala, mas somente o Espírito perde de sua lucidez, ao passo que aqui ela é consideravelmente aumentada.

24. Vosso Espírito está preso ainda por um laço qualquer ao vosso corpo? — R. Sim, disso tenho perfeitamente consciência.

25. A que poderíeis comparar esse laço? — R. A nada que conheceis, se não for como uma luz fluorescente, como aspecto, se pudésseis vê-la, mas que não produz sobre mim nenhuma sensação.

26. A luz vos afeta do mesmo modo; e no mesmo colorido que quando a vedes pelos olhos? — R. Absolutamente, uma vez que meus olhos servem, de alguma sorte, como janela à caixa de meu cérebro.

27. Percebeis os sons distintamente? — R. Mais distintamente, porque deles percebo muitos que vos escapam.

28. Como transmitis vosso pensamento ao médium? — R. Atuo sobre a sua mão para dar-lhe uma direção que facilito por uma ação sobre o cérebro.

29. Servi-vos das palavras do vocabulário que ele tem na cabeça, ou indicai-lhes as palavras que deve escrever? — R. Um e o outro, segundo minha conveniência.

29. Se tivésseis, por médium, alguém que não soubesse vossa língua e do qual a sua fosse desconhecida, um Chinês, como faríeis para ditar-lhes? — R. Isto seria mais difícil; e talvez impossível; mas, em todos os casos, isso não se poderia senão com uma flexibilidade e uma docilidade muito difíceis de se encontrar.

30. O Espírito cujo corpo estivesse morto provaria a mesma dificuldade para se comunicar com um médium completamente estranho à língua que ele falava quando vivo? — R. Talvez menos, porém, ela existiria sempre; acabo de vos dizer que, segundo a ocorrência, o Espírito dá ao médium suas expressões ou toma as dele.

31. Vossa presença aqui fatiga o vosso corpo? — R. De nenhum modo.

32. Vosso corpo sonha? — R. Não; é nisto, justamente, que ele não se cansa; a pessoa de quem falais experimentava, por seus órgãos, impressões que transmitiam ao Espírito; é isto que a fatiga; eu não sinto nada semelhante.

Nota. Ele fez alusão a uma pessoa de quem se falava neste momento, e que, numa situação semelhante, havia dito que seu corpo se cansava, e havia comparado seu Espírito a um balão cativo, cujos abalos sacudiam o poste que o retinha.

No dia seguinte o senhor de R… disse-nos ter sonhado que estivera na Sociedade entre nós e o médium; foi, evidentemente, uma lembrança da evocação. É provável que no momento da pergunta não sonhasse, uma vez que respondeu negativamente; ou talvez também, e isto é o mais provável, o sonho não era senão uma lembrança da atividade do Espírito, não é, em realidade, o corpo que sonha, uma vez que o corpo não pensa.

Portanto, pôde, e mesmo deve ter respondido negativamente, não sabendo se, uma vez desperto, seu Espírito se lembraria. Se seu corpo tivesse sonhado enquanto seu Espírito estava ausente, é que o Espírito teria tido uma dupla ação; ora, ele não poderia estar, ao mesmo tempo, na Sociedade e na sua casa.

33. Vosso Espírito está no estado que terá quando estiverdes morto? — R. Mais ou menos; menos quanto ao laço que o prende ao corpo.

34. Tendes consciência de vossas existências precedentes? — R. Muito confusamente: está ainda aí uma diferença que esqueci; depois do desligamento completo, que se segue à morte, as lembranças são sempre mais precisas; atualmente são mais completas do que durante a vigília, mas não bastante para poder especificá-las de um modo inteligível

35. Se, no vosso despertar, se vos submeter a vossa escrita, isso vos daria consciência das respostas que acabais de dar? —R. Nelas poderia encontrar alguns dos meus pensamentos; mas muitos outros não encontrariam nenhum eco no meu pensamento da vigília.

36. Poderíeis exercer sobre o vosso corpo uma influência bastante grande para vos despertar? — R. Não.

37. Poderíeis responder a uma pergunta mental? — R. Sim.

38. Vede-nos espiritualmente ou fisicamente? — R. Um e o outro.

39. Poderíeis ir visitar a irmã de vosso pai, que se diz estar numa ilha da Oceania, e como marinheiro, poderíeis precisar a posição dessa ilha? — R. Eu não posso nada de tudo isso.

40. Que pensais, agora, da vossa interminável obra e de seu objetivo? — R. Penso que devo prossegui-la, assim como o objetivo; é tudo o que posso dizer.

Nota. Ele havia desejado que se lhe fizesse esta pergunta a respeito do importante trabalho que ele empreendera sobre a marinha.

41. Ficaríamos encantados se quisésseis endereçar algumas palavras aos vossos colegas, uma espécie de pequeno discurso. — R. Uma vez que para isto encontro ocasião, aproveito para vos afirmar, sobre minha fé no futuro da alma, que a maior falta que os homens podem cometer é procurar provas e provas; isto é mais ou menos perdoável aos homens que se iniciam no conhecimento do Espiritismo; não tenho vos repetido mil vezes que é necessário crer, porque se compreende e se ama a justiça e a verdade, e que se fosse dada satisfação a uma dessas perguntas pueris, aqueles que pretendessem fazê-lo para estarem convencidos não deixariam de fazer novas no dia seguinte e que infalivelmente vos dissipariam um tempo precioso para fazerem os Espíritos lerem a sorte? Agora eu compreendo muito melhor que quando desperto, e posso vos dar o sábio conselho, quando quiserdes obter esse resultado, de vos dirigir aos Espíritos batedores e às mesas falantes que não tendo nada de melhor para vos dizer, podem se ocupar dessas espécies de manifestações. Perdoai-me a lição, mas dela tenho necessidade como os outros e não me entristeço por dá-la a mim mesmo.

O Espírito de um lado e o corpo do outro 1

(Segunda conversa, 2 de dezembro de 1859.)

42. Evocação. — R. Estou aqui.

43. Dormis bem? — R. Não muito; mas isto vai chegar.

44. No caso particular em que estais, julgais que seja útil evocar em nome de Deus, como para o Espírito de um morto?— R. Por que pois? Credes que, do fato de que eu não esteja morto, Deus me seja indiferente?

45. Se, no momento em que estais aqui, vosso corpo sentisse uma picada não muito forte para vos despertar, mas suficiente para vos fazer estremecer, vosso Espírito a sentiria —R. Meu corpo não a sentiria.

46. Vosso Espírito disso teria consciência? — R. Não a menor; mas notai bem que me falais de u ma sensação leve, e sem nenhum alcance, como importância, diante do corpo e do Espírito.

47. A propósito da luz, dissestes que ela vos parecia como no estado de vigília, tendo em vista que vossos olhos são como janelas por onde ela chega ao vosso cérebro. Concebemos isso para a luz percebida pelo vosso corpo; mas neste momento não é vosso corpo que vê. Vedes ainda por um ponto circunscrito ou por todo o vosso cérebro? — R. É muito difícil vos fazer compreender; o Espírito percebe essas sensações sem o intermédio dos órgãos, e não tem ponto circunscrito para percebê-las.

48. Insisto de novo para saber se os objetos, o espaço que vos cerca, têm para vós o mesmo colorido que quando estáveis desperto. – R. Para mim, sim, porque meus órgãos não me enganam; mas certos Espíritos nisto encontram grandes diferenças; vós, por exemplo, percebeis os sons e as cores muito diferentemente.

49. Percebeis os odores? — R. Também melhor do que vós.

50. Fazeis diferença entre a luz e a obscuridade? — R. Diferença, sim; mas a obscuridade não existe para mim como para vós; e eu vejo perfeitamente.

51. Vossa visão penetra os corpos opacos? — R. Sim.

52. Poderíeis ir para um outro planeta? — R. Isto depende.

53. Do quê isto depende? — R. Do planeta.

54. Em qual planeta poderíeis ir? —R. Naqueles que estão no mesmo grau que a Terra, ou mais ou menos.

55. Vedes os outros Espíritos? — R. Muito e ainda.

Nota. Uma pessoa que eu conhecia intimamente, e que assistia a esta sessão, disse que esta expressão lhe era muito familiar; ela vê nisto, assim como em toda a forma de sua linguagem, uma prova de identidade.

56. Vede-os aqui? — R. Sim.

57. Como constatais a sua presença? É por uma forma qualquer? – R. É pela sua forma própria; quer dizer, a do seu perispírito.

58. Algumas vezes vedes vossos filhos, e podeis lhes falar? — R. Eu os vejo e lhes falo muito freqüentemente.

59. Dissestes; Meu corpo é um acessório; sou eu que estou aqui. Esse eu é circunscrito, limitado; tem uma forma qualquer; em uma palavra como vos vedes? — R. É sempre o perispírito.

60. O perispírito é, pois, um corpo para vós? — R. Mas sem dúvida.

61. Vosso perispírito afeta a forma de vosso corpo material, e vos parece estar aqui com o vosso corpo? — R. Sim, à primeira pergunta, e não à segunda; tenho perfeitamente consciência de não estar aqui senão com o meu corpo fluídico luminoso.

62. Poderíeis me dar um aperto de mão? —R. Sim, mas não o sentiríeis.

63. Poderíeis fazê-lo de um modo sensível? — R. Isto se pode, mas não o posso aqui.

64. Se, no momento em que estais aqui, vosso corpo viesse a morrer subitamente, que sentiríeis? — R. Eu existiria antes.

65. Serieis mais prontamente desligado do que se morrêsseis nas circunstâncias comuns? — R. Muito; eu não entraria senão para fechar a porta depois de ter saído.

66. Dissestes que tendes a gota; não estais de acordo nisto com o vosso médico, aqui presente, que pretende que seja um reumatismo nevrálgico. Que pensais disto? — R. Penso que, uma vez que estais tão bem informados, isso deva vos bastar.

67. (O médico.) Sobre o quê vos fundais para que seja a gota? — R. É minha opinião a meu respeito; talvez me engane, sobretudo se estais MUITO SEGURO de não vos enganar, vós mesmo.

68. (O médico.) Seria possível que houvesse complicação de gota e de reumatismo. — R. Então todos os dois teriam razão; não nos restaria mais do que nos abraçarmos. (Esta resposta provoca o riso na assembléia.)

69. Isto vos faz rir de nos ver rir? — R. Mas às gargalhadas; vós não me entendeis?

70. Dissestes que o colchico é um remédio eficaz contra a gota; de onde vos veio esta idéia, uma vez que, desperto, não o sabieis? — R. Dele já me servi outrora.

71. Foi, pois, em uma outra existência? — R. Sim, e fez-me mal.

72. Se vos fizessem uma pergunta indiscreta, serieis constrangido a respondê-la? — R. Oh! Esta é muito forte; tentai, pois.

73. Assim tendes perfeitamente o vosso livre arbítrio?—R. Mais que vós.

Nota. A experiência provou, em muitas ocasiões, que o Espírito isolado do corpo tem sempre a sua vontade, e não diz senão aquilo que quer; compreendendo melhor a importância das coisas, ele é mesmo mais prudente, mais discreto do que seria desperto. Quando diz uma coisa, é porque crê ser útil fazê-lo.

74. Éreis livre para não vir quando vos chamamos? — R. Sim, sob a condição de sofrer-lhe as conseqüências.

75. Quais são essas conseqüências? — R. Se me recuso a ser útil aos meus semelhantes, sobretudo quando tenho a perfeita consciências dos meus atos, eu sou livre, mas sou punido.

76. Qual gênero de punição sofreríeis? — R. Seria preciso vos desenvolver o código de Deus, e isto seria muito longo.

77. Se, neste momento, alguém vos insultar, vos dissesse coisas que desperto não suportaríeis, que sentimento isso vos faria sentir? — R. O desprezo.

78. Assim não procuraríeis vos vingar? — R. Não.

79. Fazeis uma idéia da classe que ocupareis entre os Espíritos quando aí estiverdes inteiramente? — R. Não, isto não é permitido.

80. Credes que, no estado atual em que estais, o Espírito possa prever a morte do seu corpo? — R. Algumas vezes, pois se devesse morrer subitamente, teria sempre o tempo de nele reentrar.