Boletim da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas

Revista Espírita, fevereiro de 1860

Sexta-feira, 30 de dezembro de 1859. (Sessão particular.)

Leitura da ata da sessão de 23 de dezembro.

A Sociedade decidiu que, em cada sessão particular, em seguida à ata, será lida a lista nominativa dos ouvintes que tenham assistido à sessão geral precedente, com indicação dos membros que os apresentaram, e que o convite se destina a assinalar os inconvenientes dos quais poderiam ser causa a presença de pessoas estranhas à Sociedade. Em conseqüência, foi lida a lista dos ou vintes que assistiram à última sessão.

Foram admitidos como membros titulares, diante de seu pedido escrito, e depois do relatório verbal:

-1a O senhor Forbes, de Londres, oficial de engenharia, apresentado em 16 de dezembro.

-2ª A senhora Forbes, nascida condessa Passerini Corretesi, de Florença, apresentada em 23 de dezembro.

-3a O senhor Soive, negociante em Paris, apresentado em 16 de dezembro.

-4ª O senhor Demange, negociante em Paris, apresentado em 23 de dezembro.

Leitura de três novas cartas de pedido de admissão. Relatório e decisão remetidos para 6 de janeiro.

Comunicações diversas.

1a Carta do senhor Brion Dorgeval, contendo a resposta que dirigiu ao senhor Oscar Commettant, a respeito do artigo publicado por este último no Siècle, (Ver o nº de janeiro.)

2a Carta dosenhor Jobard, de Bruxelas, contendo observações muito justas sobre o estado moral dos Espíritos. Lamenta ele que os partidários do Espiritismo sejam, o mais freqüentemente, designados pelas iniciais; ele pensa que indicações mais explícitas contribuiriam para o progresso da ciência, em conseqüência, convida todos os partidários da doutrina a colocarem o seu nome, como ele mesmo o faz. (Ver o nº de janeiro.)

Esta última nota do senhor Jobard foi fortemente apoiada por um grande número de membros, que declararam autorizar a colocação de seus nomes em todas as apreciações que poderão concernir-lhes.

O senhor Allan Kardec observou que o medo do que se dirá disso diminui cada dia, e que hoje há poucas pessoas que temem confessar suas opiniões a respeito do Espiritismo; os epítetos de mau gosto, dados aos seus partidários, eles mesmos se tornam lugares comuns, ridículos, dos quais se ri, quando se vêem tantas pessoas de elite zombarem da Doutrina; porque se entrevê o momento no qual a força da opinião imporá silêncio aos sarcasmos. Mas outra coisa é ter a coragem de sua opinião na conversação, ou de liberar seu nome à publicidade. Entre as pessoas que sustentam a causa do Espiritismo com mais energia, há muitas que não se incomodam de colocar-se em evidência, não mais por outras coisas do que por estas. Esses escrúpulos, que de nenhum modo implicam na falta de coragem, devem ser respeitados. Quando fatos extraordinários se passam em alguma parte, concebe-se que seria pouco agradável, para as pessoas que lhes são objeto, tornar-se alvo da curiosidade pública e serem atacadas pelos importunes. Sem dúvida, é necessário estar contente com aqueles que se colocam acima dos preconceitos, mas não é necessário censurar, muito levianamente, aqueles que têm talvez motivos muito legítimos para não chamarem a atenção.

Estudos.

1ª Perguntas dirigidas a São Luís sobre os Espíritos que presidem às flores, a propósito da comunicação obtida pela senhora de B… Uma explicação muito interessante foi dada a esse respeito. (Será publicada.)

2a Outras perguntas sobre o espírito dos animais.

3ª Duas comunicações espontâneas foram obtidas simultaneamente, a 1a do Espírito de Verdade, pelo senhor Roze, e contendo conselhos dirigidos à Sociedade, a 2ª de Fénelon, pela senhorita Huet.

Sexta-feira, 6 de janeiro.

(Sessão particular.)

Leitura da ata do dia 30 de dezembro.

Foram admitidos como membros titulares, sobre pedido escrito, e depois de relatório verbal:

1a O senhor Ducastel, proprietário em Abbeville, apresentado em 30 dezembro;

2ªa senhora Deslandes, de Paris, apresentada em 30 de dezembro;

3a a senhora Rakowska, de Paris, apresentada em 30 de dezembro.

Leitura de uma carta de pedido de admissão.

Carta da senhora Poinsignon, de Paris, que felicita a Sociedade por ocasião do novo ano, e exprime seus votos pela propagação do Espiritismo.

Carta do senhor Demange, recentemente recebida, agradecendo sua admissão. Assegura à Sociedade sua cooperação ativa.

Exame de várias questões tocando em assuntos administrativos da Sociedade.

Comunicações diversas. Notícias sobre don Péra, prior de Armilly, morto há trinta anos. A esse respeito será feito um estudo.

2a Carta do senhor Lussiez, de Troyes, contendo reflexões muito judiciosas, relativas à influência moralizante do Espiritismo sobre as classes trabalhadoras.

3ª Carta da senhora P…, de Rouen, que anuncia ter obtido como médium, comunicações notáveis, e em tudo conforme com a doutrina de O Livro dos Espíritos. Essa carta contém, por outro lado, reflexões que denotam, da parte de sua autora, uma apreciação muito sadia das idéias Espíritas.

4a Carta relativa à senhorita Désirée Godu, médium curadora, em Hennebom. Sabe-se que, de parte da senhorita Godu, é uma obra de devotamento e de pura filantropia.

Estudos.

1º Perguntas dirigidas a São Luís, como esclarecimento e desenvolvimento de várias comunicações anteriores.

2º A Senhorita Dubois, médium, membro da Sociedade, tendo obtido uma comunicação de um Espírito que se diz ser Chateaubriand, deseja ter esclarecimentos a esse respeito.

Um outro Espírito se apresenta com o seu nome, mas se recusa a confirmar sua identidade em nome de Deus; confessa sua fraude, pede desculpas e dá curiosas indicações sobre a sua pessoa.

O verdadeiro Chateaubriand, em seguida, deu uma curta comunicação espontânea, nela prometendo outra mais explícita numa outra vez.

Sexta-feira, 13 de janeiro de 1860.

(Sessão geral)

Leitura da ata de 6 janeiro. Leitura de três novos pedidos de admissão. — Exame e relatório remetidos à sessão de 20 de janeiro.

Comunicações diversas.

1a Carta do senhor Maurice.de Teil, de Ardèche, contendo relação de fatos extraordinários que ocorreram em uma casa de Fons, perto de Aubenas, e que parecem, sob alguns aspectos, os que se passaram em Java.

2a Carta do senhor Albert Ferdinand, de Béziers, contendo três fatos notáveis que lhes são pessoais, e que provam a ação física, que os Espíritos podem exercer sobre certos médiuns.

3a Carta do senhor Crozet, de Havre, médium correspondente da Sociedade, que dá conta de uma comunicação que teve, juntamente com o senhor Sprenger, da parte de um Espírito brincalhão. Este Espírito, que é de um capitão da marinha, morto em Marseille há seis meses, explica com uma precisão e uma lucidez notáveis os diferentes golpes de cartas do jogo “bésigue” e a maneira pela qual faz perder ou ganhar os parceiros. (Será publicada.)

4a Um Espírito dançarino. O senhor e a senhora Netz, membros da Sociedade, há algum tempo, têm um Espírito que se manifesta em sua casa, dançando constantemente, quer dizer, fazendo dançar uma mesa que bate o ritmo perfeitamente conhecido de uma polca, de uma mazurca, de uma quadrilha, de uma valsa de dois ou três tempos, etc. Ele jamais quis escrever, e não responde senão por pancadas. Por esse meio, chegou a dizer que era Péruvien, de raça indiana, morto há cinqüenta e seis anos, com a idade de 35 anos; que quando vivo gostava muito de aguardente, e que agora freqüenta os bailes públicos onde sente um grande prazer. Apresenta esta particularidade de que jamais chega antes das dez horas da noite, e em certos dias. Ele vem, disse, pela senhora Netz, mas não pode se comunicar senão com o concurso do senhor D…, médium de efeitos físicos, de sorte que lhe é preciso a presença dos dois. Assim, o senhor D… jamais pôde fazê-lo vir à sua casa, e a senhora Netz não pode tê-lo se estiver só.

5a Leitura de uma comunicação espontânea, enviada pelo senhor Rabache, de Bourdeaux, seguindo-se a série daquelas que foram publicadas sob o título de conselhos de família.

6a A senhora Forbes dá a leitura de três comunicações espontâneas obtidas pelo seu marido, sobre o amor filial, o amor paternal e a paciência. Essas comunicações, notáveis pela sua alta moralidade e a simplicidade da linguagem, podem ser classificadas na categoria de conselhos íntimos.

Estudos.

1a Evocação do Espírito de Castelnaudary, já evocado em 9 de dezembro. (Ver a relação completa, sob o título de história de um condenado.)

2a Evocação do Espírito dançarino. Ele não quer escrever, mas bate o ritmo de várias danças com o lápis e agita o braço do médium em cadência. São Luís dá algumas explicações sobre o seu caráter, e confirma as informações fornecidas precedentemente.

3a Perguntas sobre as manifestações de Fons, perto de Aube-nas. Respondeu que há verdades nestes fatos, mas que não é preciso aceitá-los sem controle, e que sobretudo devese manter em guarda contra o exagero.

4a Evocação de don Péra, prior de Armilly. Ele forneceu interessantes detalhes sobre a sua situação e seu caráter.

5a Foram obtidas duas comunicações espontâneas: a primeira pelo senhor Roze, de um Espírito que se designou sob o nome de Estelle Riquier, e que levou uma vida desordenada e faltou com todos os seus deveres de esposa e de mãe. A segunda pelo senhor Forbes, contendo conselhos sobre a cólera.

Sexta-feira, 20 de janeiro de 1860.

(Sessão particular.)

Leitura da ata de 13 de janeiro.

São admitidos como membros titulares, a seu pedido escrito, e depois de relatório verbal:

1a O senhor Krafzoff, de São Petersburgo, apresentado em 13 de janeiro. – 2a O senhor Julien, de Belfort, (Haut-Rhin), apresentado em 13 de janeiro. – 3a O senhor conde Alexandre Stenbock Fermor, de São Petersburgo, apresentado em 6 de janeiro.
Comunicações diversas. 1a Leitura de uma comunicação espontânea obtida pelo senhor Pécheur, membro da Sociedade.

2ª Novos detalhes sobre o Espírito dançarino. A senhora Netz, que é médium escrevente, interrogando um outro Espírito a este respeito, obteve várias informações sobre o seu proveito, entre outras que era bastante rico quando vivo; que morreu de um acidente de caça, no momento em que se encontrava completamente só. Tendo, mais tarde, interrogado o próprio dançarino sobre esses fatos, com a ajuda de seu médium e por pancadas, dele se obtiveram respostas idênticas. Ora, a senhora Netz não dera conhecimento ao médium das primeiras respostas escritas; por outro lado, não era mais ela que servia de médium, além disso havia colocado perguntas insidiosas que poderiam conduzir a respostas contrárias; havia, portanto, de uma parte e de outra, independência de pensamento, e a correlação das respostas foi um fato característico.

Um outro fato igualmente curioso, foi que seu médium predileto para dança foi tomado um dia, saindo de sua casa, de movimentos involuntários que o fizeram marchar cadenciadamente todo comprimento da rua. Por sua vontade, e resistindo, poderia deter esses movimentos; mas, desde que se abandonou a si mesmo, suas pernas retomaram sua maneira dançante. Não havia nada, bastante ostensivo, para ser notado pelos transeuntes; mas concebe-se, segundo isso, que Espíritos de uma outra ordem e ma! intencionados que o dançarino, que, em definitivo, não querem senão se divertir, possam provocar, sobre certas organizações, movimentos mais violentos e da natureza daqueles que se vêem nos convulsionários e nos crisíacos.

3a Relato de um fato de comunicação espontânea de um Espírito de uma pessoa viva, narrada pelo senhor de G…, mediu m escrevente, que lhe é pessoal. Este Espírito entrou em detalhes circunstanciais completamente ignorados do médium e dos quais a exatidão foi verificada. O senhor de G. , não conhecia esta pessoa senão por tê-la visto uma única vez numa visita, e não a reviu depois. Não sabia senão seu nome de família; ora, o Espírito assinou, ao mesmo tempo, seu nome de batismo que era perfeitamente o seu. Esta circunstância, juntada a outras indicações de tempo e localidade, fornecidas pelo Espírito, constitui uma prova evidente de identidade.

O senhor conde de R… observou a este respeito, que essas espécies de comunicações, às vezes, podem ser indiscretas, e ele se pergunta se a pessoa em questão ficaria satisfeita se lhe tivesse feito parte de sua conversação. A isso respondeu: 1a Que se essa pessoa se comunicou, foi porque quis, como Espírito, uma vez que veio de seu próprio movimento, o senhor de G…, com isso nem sonhava, nem a chamou; 2a que o Espírito liberto do corpo tem sempre seu livre arbítrio, e não diz senão aquilo que quer; 3a que, nesse estado, o Espírito tem mesmo mais prudência que no estado normal, porque aprecia melhor a importância das coisas. Se esse Espírito visse um inconveniente qualquer em suas palavras, não as teria dito.

4a Leitura de uma comunicação dirigida de Lyon à Sociedade e na qual está dito entre outras coisas;

Que a reforma da Humanidade se prepara pela encarnação, na Terra, de Espíritos melhores que constituirão uma nova geração pelo amor ao bem; que os homens que se dão ao mal e que fecham os olhos à luz reencarnarão numa nova falange de Espíritos, simples e ignorantes, e enviados por Deus para trabalharem na formação de um globo inferior ao da Terra. Eles não poderão juntar-se a seus irmãos terrestres senão depois de haverem alcançado, através de rudes trabalhos, a classe onde esses últimos vão entrar depois dessa geração; porque não será dado aos Espíritos maus assistirem ao começo desta brilhante transformação.” O senhor Theubet observou que esta comunicação parece consagrar o princípio de uma marcha retrógrada, contrariamente a tudo o que nos foi ensinado.

Uma longa e profunda discussão se inicia a este respeito. Ela se resume assim: O Espírito pode decair como posição, mas não sob o aspecto das aptidões adquiridas. O princípio da não retrogradação deve-se entender do progresso intelectual e moral; quer dizer, que o Espírito não pode perder o que adquiriu em inteligência e moralidade, e não retorna mais ao estado de infância do Espírito; em outros termos, que ele não se torna nem mais ignorante nem pior do que era; o que não impede de estar reencarnado numa posição inferior mais penosa, e entre outros Espíritos mais ignorantes que ele, se desmereceu.

Um Espírito muito atrasado que se encarnasse entre um povo civilizado aí estaria deslocado e não poderia sustentar sua classe; retornando entre os selvagens, numa nova existência, não fará, portanto, senão retomar o lugar que deixara muito cedo; mas as idéias que houvera adquirido, durante sua estada entre os homens mais esclarecidos, não estarão perdidas para ele. Deve ocorrer o mesmo com os homens que irão concorrer para a formação de um mundo novo. Encontrandose deslocados na Terra melhorada, irão para um mundo em relação com o seu estado moral.

Estudos. Evocação do negro do navio Constant, já evocado em 30 de setembro de 1859.

Dá novas explicações sobre as circunstâncias que acompanharam a sua morte.

2a Três comunicações espontâneas: a primeira de Chateaubriand, pelo senhor Roze; a segunda de Platão, pelo senhor Colin; a terceira de Charlei, pelo senhor Didier filho, em continuação ao trabalho começado por ele sobre a natureza dos animais.

boletim espiritual 1860

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