Boletim da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas

Revista Espírita, janeiro de 1860

Sexta-feira, 2 de dezembro de 1859. (Sessão particular.)

Leitura da ata da sessão de 25 de novembro.

Pedidos de admissão. Cartas do senhor L. Benardacky, de São Petersburgo e da senhora Elisa Johnson, de Londres, que pedem para fazerem parte da Sociedade como membros titulares.

Comunicações diversas. Leitura de duas comunicações dadas ao senhor Bouché, antigo reitor da Academia, médium escrevente, pelo Espírito da duquesa de Longueville, a respeito de uma visita que esta última fizera, como Espírito, à Port-Royal-des Champs.

Essas duas comunicações são notáveis pelo estilo e a elevação dos pensamentos. Elas provam que certos Espíritos revêem com prazer os lugares que habitaram quando vivos, e que têm o encanto da lembrança. Sem dúvida, quanto mais desmaterializado, menos ligam importância às coisas terrestres, mas há os que a isso se prendem, por muito tempo ainda, depois de sua morte, e parecem continuar, no mundo invisível, as ocupações que tinham neste mundo, ou pelo menos tomam nisto um certo interesse.

Estudos. 1a Evocação do senhor conde Desbassyns de Richemont, morto em junho de 1859, e que, há mais de dez anos, professava as idéias Espíritas. Essa evocação confirma a influência destas idéias no desligamento do Espírito depois da morte.

2ª Evocação da irmã Marthe, morta em 1824.

3ª Segunda evocação do Sr. conde de R… C.., membro da Sociedade, retido em sua casa por uma indisposição e seguida de perguntas que lhe foram endereçadas sobre o isolamento momentâneo do Espírito e do corpo, durante o sono. (Publicada neste número.)

Sexta-feira, 9 de dezembro. (Sessão geral.)

Leitura da ata da sessão do dia 2 de dezembro.

Comunicações diversas. O senhor de Ia Roche transmitiu uma notícia sobre fatos de manifestações notáveis que ocorreram numa casa de Castelnaudary. Esses fatos são narrados na nota que precede o relatório da evocação que ocorreu a este respeito e que será publicado.

Estudos. 1a Evocação do rei de Kanala (Nova Caledônia), já evocado no dia 28 de outubro, mas que então escrevera com muita dificuldade, e havia prometido se exercitar para escrever mais claramente. Dá curiosas explicações sobre a maneira que adotou para se aperfeiçoar. (Será publicada com a primeira evocação.)

2a Evocação do Espírito de Castelnaudary. Ele se manifestou por sinais de viva cólera sem nada poder escrever; quebrou sete ou oito lápis, dos quais vários foram lançados com força contra os assistentes, e sacudiu violentamente o braço do médium. São Luís dá explicações interessantes sobre o estado e a natureza desse Espírito, que é, disse ele, da pior espécie, e na situação a mais infeliz. (Será publicada com todas as outras comunicações relativas a este assunto.)

3a Quatro comunicações são obtidas simultaneamente. A primeira de São Vicente de Paulo, pelo senhor Roze; a segunda de Charlet, pelo senhor Didier filho, seguindo o trabalho começado pelo mesmo Espírito. A terceira de Mélanchthon, pelo senhor Colin; a quarta de um Espírito que se deu o nome de Mikaèl, protetor das crianças, pela senhora de Boyer.

Sexta-feira, 16 de dezembro de 1859. (Sessão particular.)

Leitura da ata.

Admissões. São admitidos como membros titulares: o senhor L. Benadacky, de São Petersburgo, e a senhora Elisa Johnson, de Londres, apresentados dia 2 de dezembro.

Pedidos de admissão. O senhor Forbes, de Londres, oficial de engenharia, e a senhora Forbes, de Florença, escrevem para pedirem fazer parte da Sociedade como membros titulares. Relatório e decisão remetidos para o dia 30 de dezembro.

Designação de seis delegados que deverão dividir os serviços das sessões gerais até o dia primeiro de abril, sem que haja necessidade de designar um para cada sessão. Terão, por outro lado, em suas atribuições, que assinalar as infrações que poderão cometer os ouvintes estrangeiros, contra o regulamento, em conseqüência de sua ignorância das exigências da Sociedade, a fim de advertir os membros titulares que lhes deram as cartas de introdução.

Sobre a proposição do senhor Allan Kardec, a Sociedade decidiu que o Boletim de suas sessões será doravante publicado em suplemento da Revista, a fim de que esta publicação não se faça em detrimento das matérias habituais do jornal. Em conseqüência desta adição, cada número será aumentado em torno de quatro páginas, cujas despesas serão levadas à conta da Sociedade.

O senhor Lesourd propôs que quando houver cinco sessões no mês, a quinta seja consagrada a uma sessão particular. (Adotado.) O senhor Thiry observou que, freqüentemente, os Espíritos sofredores reclamam o socorro de preces como um abrandamento para as suas penas; mas, tendo em vista que pode ocorrer perdê-los de vista, propôs que, em cada sessão, o Presidente lhes lembre os nomes. (Adotado.)

Comunicações diversas. 1a Carta do senhor Jobard, de Bruxelas, que confirma, com detalhes circunstanciados, o fato das manifestações de Java, narrado pela senhora Ida Pfeiffer, e publicado na Revista de dezembro. Ele os obteve do próprio general holandês, com quem estava ligado, e que foi encarregado de fiscalizar a casa onde se passaram essas coisas, e por conseguinte, testemunha ocular. (Publicada neste número.)

2ª Leitura de uma comunicação do Espírito de Castelnaudary, obtido pelo senhor e senhora Forbes, ouvintes na última sessão. Ele deu detalhes interessantes e circunstanciados sobre este Espírito, e os acontecimentos que se passaram na casa em questão. Várias outras comunicações tendo sido obtidas sobre o mesmo assunto, elas serão reunidas à da Sociedade para serem publicadas quando o todo estiver completo.

3a Leitura de uma notícia sobre a senhora Xavier, médium vidente. Esta senhora não vê à vontade, mas os Espíritos se apresentam a ela espontaneamente; sem estar nem em sonambulismo, nem em êxtase, ela está, contudo, naqueles momentos, num estado particular, que reclama a maior calma e muito recolhimento; de tal sorte que se interrogada sobre o que vê, este estado se dissipa num instante, e ela não verá mais nada. Como disto conserva uma lembrança completa, pode dar-se conta mais tarde, do que viu. Assim é que, por exemplo, ela viu, entre outros, a irmã Marthe, no dia em que ela foi evocada e a designou de modo a não deixar nenhuma dúvida sobre a sua identidade. Ela viu igualmente, na última sessão, o Espírito de Castelnaudary, vestido com uma camisa rasgada, um punhal à mão, as mãos tintas de sangue, sacudindo fortemente o braço do médium, durante suas tentativas para escrever, e cada vez que São Luís parecia ordenar-lhe fazê-lo. Ele tinha uma espécie de sorriso bestificado nos lábios; depois, quando se falou de preces, primeiro não pareceu compreender; mas logo depois das explicações, dadas por São Luís, ele se precipitou aos seus joelhos.

O rei de Kanala apareceu-lhe com a cabeça de um branco; ele tinha os olhos azuis, bigodes e suíças cinzas, mãos de negro, braceletes de aço, uma roupa azul, o peito coberto com uma multidão de objetos que ela não pôde distinguir. “Esta aparência, foi-lhe dito, deve-se a que, entre a existência anterior da qual falou e sua última, ele foi soldado em França, sob Luís XV. Era uma conseqüência de seu estado avançado comparativamente. Ele pediu para retornar entre os povos de onde tinha saído para ali fazer, como chefe, penetrar as idéias de progresso. Esta forma que tomou, e esta aparência metade selvagem e metade civilizada, destinam-se a vos mostrar, sob uma nova face, as que o Espírito pode dar ao perispírito, com um objetivo instrutivo, e como indício dos diferentes estados pelos quais passou.”

A senhora X… viu ainda os Espíritos evocados virem responder à evocação e às perguntas que nada tinham de repreensível quanto à sua finalidade; e sob a ordem de São Luís, retirarse para deixar os Espíritos presentes responderem em seu lugar, desde que as perguntas tomassem um caráter insidioso. “A maior boa fé e a maior franqueza devem ditar as perguntas, nenhuma prevenção, acrescentou o Espírito interrogado a este respeito pelo marido desta senhora, não nos escapam; não procureis, portanto, jamais atingir vosso objetivo por caminhos secretos, pois assim o deixaríeis de tê-lo infalivelmente.”

Ela via uma coroa fluídica rodear a cabeça do médium, como para indicar os momentos durante os quais estava interditado aos Espíritos não chamados para se comunicarem, porque as respostas deviam ser sinceras; mas desde que esta coroa era retirada, ela via todos estes Espíritos intrusos disputarem, de algum modo, o lugar que lhes deixava.

Ela viu, enfim, o Espírito do Sr, conde de R… soba forma de um coração luminoso tombado, unido a um cordão fluídico que conduzia externamente. Era, foi-lhe dito, para vos ensinar primeiro que o Espírito pode dar, ao seu perispírito, a aparência que quer; em seguida porque pôde ali ver da inconveniência para esta senhoraem reencontrar, frente a frente, um Espírito encarnado que vira como Espírito desligado. Mais tarde, este inconveniente terá diminuído ou desaparecido.

Estudos. 1° Evocação de Charlei.

2a Três comunicações espontâneas foram obtidas simultaneamente: a primeira de Santo Agostinho, pela senhora Roze. Ela explica a missão do Cristo, e confirma um ponto muito importante explicado por Arago, sobre a formação do globo; -a Segunda de Charlet, pelo senhor Didier filho (continuação do trabalho começado); – a terceira de Joinville, que assina em velha ortografia: Amy de Loys, pela senhora Huet.

Sexta-feira, 23 de dezembro de 1859. (Sessão geral.)

Leitura da ata e dos trabalhos da sessão do dia 16 de dezembro.

Pedidos de admissão. Cartas do senhor Demange, negociante em Paris; do senhor Soive, negociante em Paris, apresentados como membros titulares. Relatório e decisão remetidos à sessão do dia 30 de dezembro.

Comunicações diversas. 1. Leitura de uma evocação feita em particular pela senhora de D… do Espírito que se comunicou espontaneamente por ela na Sociedade, sob o nome de Paul Miffet, no momento em que ia se reencarnar. Esta evocação, que apresenta um interessante quadro da reencarnação e da situação física e moral do Espírito nos primeiros instantes de sua vida corpórea, será publicada.

2. Carta do senhor Paul Netz sobre os fatos que conduziu à tomada de posse, pelos Chartreux, das ruínas do castelo Vauvert, situado no quarteirão do Observatório de Paris, sob Luís IX. Passaram-se, supostamente, neste castelo, cenas de feitiços, que cessaram desde que os monges aí foram instalados. São Luís, interrogado sobre esses fatos, respondeu que deles tem perfeitamente conhecimento, mas que eram uma hipocrisia.

Estudos. 1. Questões e problemas morais diversos dirigidos a São Luís, sobre o estado dos

Espíritos sofredores. (Serão publicados.)

2. Evocação de John Brown.

3. Três comunicações espontâneas: a primeira pela senhora Roze, e assinada pelo Espírito de Verdade, contendo diversos conselhos à Sociedade; a segunda, de Charlei, pelo senhor Didier filho (continuação do trabalho começado); a terceira sobre os Espíritos que presidem às flores, pela senhora de B…

ALLAN KARDEC.
Nota. A nova edição de O Livro dos Espíritos vai aparecer em janeiro.

 

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